TV Mirante teve acesso, com exclusividade, a detalhes do inquérito sobre o caso.
SÃO LUÍS – Nesta terça-feira (23), a morte do jornalista da editoria de política de O Estado do Maranhão,
Décio Sá, completa exato um ano. Ele foi assassinato a tiros em um bar
da avenida Litorânea. As investigações levaram a polícia a indiciar 13
pessoas pelo crime, que teria sido encomendado por uma quadrilha de
agiotas, porque o jornalista havia publicado uma nota em seu blog que
ligava o grupo criminoso a um assassinato no Piauí.
O
enredo envolveu dinheiro, traição e mortes. Em 30 de março de 2012. Em
uma movimentada avenida de Teresina, capital do Piauí, que o empresário
Fábio Brasil foi assinado com vários tiros, enquanto estava parado no
carro dele, conversando com um amigo. Foi esse crime que deu origem às
investigações, que resultaram na prisão de um das maiores quadrilhas de
agiotas do Maranhão. A quadrilha, de acordo com a polícia, emprestava
dinheiro a juros para prefeitos durante as campanhas eleitorais. Depois
de eleitos, os políticos faziam os pagamentos com dinheiro público,
usando cheques. Fábio Brasil era um empresário do Piauí que, segundo as
investigações, já fez parte da quadrilha, mas ficou devendo dinheiro
para os chefes do bando: Glaúcio Alencar e o pai dele, José de Alencar
Miranda.
Os dois teriam
contratado um dos maiores pistoleiros do Norte e Nordeste do país:
Jhonatan dos Santos Silva, que confessou ter matado quase 50 pessoas.
Além do assassinato de Fábio Brasil, o pistoleiro confessou, ainda, ter
matado o jornalista Décio Sá.
Depoimentos
A TV Mirante
teve acesso aos depoimentos prestados pelos envolvidos, que foram
filmados pela polícia e encaminhados ao Ministério Público e à Justiça.
Também foram feitas acareações. Trata-se de uma sequência de acusações
mútuas entre os integrantes da quadrilha, além de muitas contradições. O
caso foi mostrado no JMTV 2ª edição desta segunda-feira (22).
Primeiro,
o pistoleiro confessa os crimes e aponta quem seriam os mandantes. "Eu
só sei que um era o Júnior Bolinha, que contratou meus serviços e outras
duas pessoas. Um é o amigo dele de infância que é o capitão e o outro é
o que ele chamava de Gláucio e que eu não conheço. Só ouvia ele falar",
afirma Jhonatan. Todos os citados foram investigados e presos em
seguida. Ao todo, houve 13 indiciados pelo assassinato do jornalista
Décio Sá, em São Luís, e sete pela morte do empresário Fábio Brasil, no
Piauí.
No Maranhão, o
pistoleiro foi colocado frente a frente com o suposto contratante, José
Raimundo Sales Júnior, conhecido como "Júnior Bolinha", que seria o
braço direito de Gláucio na quadrilha. "Bolinha" negou tudo. Na
acareação, Jhonatan afirma que conhece "Bolinha", que rebate: "nunca vi.
Conheço por foto". O pistoleiro contou detalhes de como era a chácara
de Júnior Bolinha, onde, segundo ele, eram marcados os encontros para
combinar as mortes. Exaltados, os dois chegaram a discutir no
interrogatório.
Júnior
Bolinha, que seria o contratante do pistoleiro, também, trocou acusações
com o suposto mandante, Gláucio Alencar, apontado pela polícia como
chefe da quadrilha. Gláucio admite que recebeu proposta de "Bolinha"
para matar Fábio Brasil. Os dois assumiram, ainda, que se encontraram em
um posto de combustíveis na noite anterior à morte de Fábio Brasil.
Gláucio diz que foi pedir para bolinha não matar o empresário. "Eu disse
que não queria que ele quisesse, e ele me disse que eu era frouxo, que
eu era ‘mijão’, que se eu quisesse era só falar e tal", disse em
depoimento. Gláucio diz que "Bolinha" afirmou: “rapaz, eu não acredito
que você é tão covarde. Rapaz, tu não fazer um negócio desse. O cara
sujou teu nome aí na cidade. Disse que as pessoas iam até me pagar se eu
fizesse". Em outro trecho das gravações, Gláucio diz que "Bolinha"
falou: "era melhor a mãe dele chorar do que a tua. Um vagabundo desses.
Tu é empresário, trabalhador, com tudo pela frente. E, ainda, falou que o
Fábio queria me matar. Que o ‘Fabinho’ queria me matar”.
Houve,
ainda, outro encontro em uma panificadora na manhã seguinte, quando
Fábio Brasil já havia sido assassinado. Gláucio diz que ficou sabendo,
ali, que Bolinha havia mandado matar o empresário do Piauí. "eu soube no
dia seguinte que recebi uma mensagem em que ele dizia: ‘já resolvi o
problema’", afirmou. "Aí eu me desesperei. Mandei uma mensagem pra ele
dizendo: ‘eu não mandei você resolver nada, cara. Você sabe disso’",
continuou. "Bolinha" diz que marcou o encontro porque queria saber se
Gláucio tinha envolvimento no crime. "Eu disse rapaz, você mandou matar
Fábio Brasil? Não. Não tenho nada a ver com isso e, depois, foi embora",
diz "Bolinha". Novamente, há trocas de acusações. "Quando eu fui no
posto, você falou para ti pra você não fazer, eu sabia que isso ia dar
nisso, rapaz", diz Gláucio. "Gláucio, você tem que falar é a verdade.
Quem mandou matar Fábio Brasil foi teu pai. Agora, esse negócio de Décio
Sá eu não sei. Porque quem mexe com blog é tu também. Tu que briga com blogueiro. Eu não tenho tempo pra mexer com isso", rebate "Bolinha".
Agiotagem
Os
depoimentos colhidos durante as investigações dos assassinatos levaram a
polícia a descobrir que a quadrilha acusada dos crimes mantinha um
esquema de agiotagem e corrupção em prefeituras que desviou mais de R$
100 milhões de cofres públicos, fraudando licitações nas áreas de saúde,
merenda escolar e aluguel de máquinas. Fábio Brasil teria dado um golpe
na quadrilha e morreu por isso. Décio Sá foi assassinado porque
denunciou, em seu blog, o grupo que matou o empresário no Piauí.
A
acareação entre o suposto mandante e o homem que teria contratado o
pistoleiro para cometer os dois crimes termina com a ironia de um dos
acusados: "vamos fazer o seguinte: vamos dizer que o mandante é o
coelhinho da Páscoa. Se não tem o mandante, prende o coelhinho da
Páscoa", finaliza Gláucio.
Julgamento
No
dia 6 de maio, terão início as audiências das testemunhas de defesa,
acusação e os acusados arrolados no processo do assassinato de Décio Sá.
As audiências de instrução ocorrerão até o dia 24 do próximo mês, no
Salão do Júri, no 1º andar do Anexo do Fórum Desembargador Sarney Costa,
no Calhau, a partir das 9h, de segunda-feira a sexta-feira. Durante os
15 dias, mais de 55 pessoas serão ouvidas pela juíza Ariane Mendes
Castro Pinheiro, titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri de São Luís, que
é a responsável pelo caso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário