Deputados, policiais, delegado e prefeitos teriam participação na quadrilha.
SÃO LUÍS – A morte do jornalista da editoria de política de O Estado do Maranhão,
Décio Sá, completou, na última terça-feira (23), exato um ano. Décio
foi morto a tiros no dia 23 de abril de 2012, em um bar da Avenida
Litorânea, em São Luís. O motivo do crime foram as denúncias realizadas
pelo jornalista, em seu blog, sobre uma quadrilha de agiotas que
atuava no Maranhão. Um consórcio formado por empresários encomendou a
execução do jornalista. Desde segunda-feira (22), a TV Mirante vem mostrando com exclusividade, no JMTV 2ª Edição, partes da investigação sobre o assassinato do jornalista.
A
quadrilha, que atuava no desvio de verbas de merenda escolar e em crime
de agiotagem, começou a ter prejuízo a partir da publicação de
reportagens no Blog do Décio. A polícia descobriu, por meio de escutas
telefônicas autorizadas pela Justiça, ramificações da quadrilha
comandada por Gláucio Alencar e seu pai, José Alencar de Miranda. De
acordo com as investigações, o grupo fazia empréstimos a prefeitos
enquanto eles ainda eram candidatos, o pagamento era feito com o
dinheiro público depois que eles eram eleitos. Segundo a polícia, mais
de R$ 100 milhões teriam sido desviados das prefeituras do Maranhão.
O
relatório de investigação aponta que Franklin Neto, vereador da cidade
de Raposa, seria uma pessoa de confiança dos agiotas, chegando a
intermediar negócios com prefeituras da Grande São Luís. Ao ser
questionado pela equipe da TV Mirante, Franklin Neto negou
qualquer envolvimento com a quadrilha. Em um processo de 2009, o avô do
vereador, o advogado José Franklin Skeff Sebá, aparece como defensor do
assassino confesso do jornalista Décio Sá, Jhonatan de Sousa Silva, na
cidade de Xinguara, no Estado do Pará, onde respondia por um homicídio.
Tempos
depois, Jhonatan de Sousa Silva, admitiu ter sido contratado pela
quadrilha para matar duas pessoas. O fato de o avô de Franklin Neto ter
defendido Jhonatan, leva a polícia a acreditar que o vereador, de fato,
teria envolvimento com a quadrilha de agiotas. José Franklin Skeff Seba,
em entrevista à TV Mirante, por telefone, assumiu ter defendido Jhonatan em 2010, por duplo homicídio, mas negou qualquer ligação com a agiotagem.
Durante
depoimentos, o pistoleiro confessou os crimes em Santa Inês, além de
ter matado Fábio Brasil no Piauí e Décio Sá em São Luís. Além disso,
afirmou que o deputado estadual Raimundo Cutrim, também, teria
envolvimento com a quadrilha de agiotagem. Em conversas gravadas entre
integrantes da quadrilha, o nome do deputado também é citado. (Ouça no
áudio). Raimundo Cutrim afirmou que nunca se envolveu com agiotas, mas
admite conhecer Gláucio Alencar e o Júnior Bolinha, com o qual contratou
serviços.
Para a polícia conseguir avançar nas
investigações sobre o suposto envolvimento de Raimundo Cutrim no esquema
de agiotagem, é necessária uma autorização do Tribunal de Justiça, que
nunca foi concedida.
As
investigações apontam, ainda, que dois policiais civis, identificados
como Alcides Nunes da Silva e Joel Durans Medeiros, faziam parte da
organização criminosa. Eles trabalhavam na Superintendência Estadual de
Investigação Criminal (Seic), justamente no departamento que investiga a
quadrilha. Após serem descobertos, os policiais foram afastados do
serviço e indiciados por participação na morte de Décio Sá. Além de
policiais civis, um capitão da Polícia Militar, identificado como Fábio
Aurélio Saraiva Filho, conhecido como “Fábio Capita”, foi preso acusado
de envolvimento em duas mortes que teriam sido planejadas pelos agiotas.
Ele foi acusado de envolvimento na morte de Fábio Brasil, além de ter
sido apontado por Jhonatan como fornecedor da arma usada para matar o
jornalista Décio Sá. Apesar de a arma estar com a numeração raspada, a
polícia conseguiu identificar que a munição usada no crime pertence a
Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA), que foi destinada
às policias Civil e Militar do Estado.
Neste mês, Fábio Capita conseguiu Habeas Corpus no caso do assassinato de Décio, mas vai continuar detido por causa do assassinato de Fábio Brasil no Piauí.
Um
delegado da Polícia Federal, identificado como Pedro Meireles, também
teria envolvimento no esquema de agiotagem. Segundo as investigações,
Pedro Meireles, é quem investigava irregularidades de prefeituras
maranhenses. Para a polícia, ele era quem esquematizava operações para
pressionar os prefeitos que não pagavam os agiotas.
Para
confirmar o envolvimento de Pedro Meireles com a quadrilha, o
ex-prefeito de Serrano do Maranhão, Vagno Pereira, conhecido como
“Banga”, concedeu entrevista à rádio Mirante AM, em agosto do ano
passado, onde afirmou que foi ameaçado pela quadrilha de agiotas porque
não quis pagar uma dívida de R$ 200 mil.
Vagno
Pereira alegou que foi preso em 2010, em uma operação da Polícia
Federal, armada por Pedro Meireles, por conta da dívida com a quadrilha.
O delegado também foi citado em outros depoimentos de testemunhas e
aparece em conversas de grampos telefônicos que monitorava a quadrilha.
(Ouça no áudio).
O delegado foi procurado pela equipe de reportagem da TV Mirante,
mas não quis gravar entrevista. Em nota, a Polícia Federal disse que já
está apurando as denúncias contra Pedro Meireles, mas que só vai se
manifestar quando as investigações estiverem concluídas.
Procurado pela TV Mirante,
o advogado de Gláucio, Ronaldo Henrique também não quis gravar
entrevista. Já os policiais, Alcides Nunes e Joel Durans, indiciados e
afastados da função, não foram encontrados para falar sobre o assunto.
As
investigações sobre os crimes de agiotagem no Maranhão, ainda, não
foram concluídas. A polícias acredita ainda que haja a participação de
deputados e até de juízes no esquema de agiotagem no Maranhão.
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