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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Escutas telefônicas revelam envolvidos em agiotagem no Maranhão

Deputados, policiais, delegado e prefeitos teriam participação na quadrilha.
 
SÃO LUÍS – A morte do jornalista da editoria de política de O Estado do Maranhão, Décio Sá, completou, na última terça-feira (23), exato um ano. Décio foi morto a tiros no dia 23 de abril de 2012, em um bar da Avenida Litorânea, em São Luís. O motivo do crime foram as denúncias realizadas pelo jornalista, em seu blog, sobre uma quadrilha de agiotas que atuava no Maranhão. Um consórcio formado por empresários encomendou a execução do jornalista. Desde segunda-feira (22), a TV Mirante vem mostrando com exclusividade, no JMTV 2ª Edição, partes da investigação sobre o assassinato do jornalista.
A quadrilha, que atuava no desvio de verbas de merenda escolar e em crime de agiotagem, começou a ter prejuízo a partir da publicação de reportagens no Blog do Décio. A polícia descobriu, por meio de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, ramificações da quadrilha comandada por Gláucio Alencar e seu pai, José Alencar de Miranda. De acordo com as investigações, o grupo fazia empréstimos a prefeitos enquanto eles ainda eram candidatos, o pagamento era feito com o dinheiro público depois que eles eram eleitos. Segundo a polícia, mais de R$ 100 milhões teriam sido desviados das prefeituras do Maranhão.

O relatório de investigação aponta que Franklin Neto, vereador da cidade de Raposa, seria uma pessoa de confiança dos agiotas, chegando a intermediar negócios com prefeituras da Grande São Luís. Ao ser questionado pela equipe da TV Mirante, Franklin Neto negou qualquer envolvimento com a quadrilha. Em um processo de 2009, o avô do vereador, o advogado José Franklin Skeff Sebá, aparece como defensor do assassino confesso do jornalista Décio Sá, Jhonatan de Sousa Silva, na cidade de Xinguara, no Estado do Pará, onde respondia por um homicídio.
Tempos depois, Jhonatan de Sousa Silva, admitiu ter sido contratado pela quadrilha para matar duas pessoas. O fato de o avô de Franklin Neto ter defendido Jhonatan, leva a polícia a acreditar que o vereador, de fato, teria envolvimento com a quadrilha de agiotas. José Franklin Skeff Seba, em entrevista à TV Mirante, por telefone, assumiu ter defendido Jhonatan em 2010, por duplo homicídio, mas negou qualquer ligação com a agiotagem.
Durante depoimentos, o pistoleiro confessou os crimes em Santa Inês, além de ter matado Fábio Brasil no Piauí e Décio Sá em São Luís. Além disso, afirmou que o deputado estadual Raimundo Cutrim, também, teria envolvimento com a quadrilha de agiotagem. Em conversas gravadas entre integrantes da quadrilha, o nome do deputado também é citado. (Ouça no áudio). Raimundo Cutrim afirmou que nunca se envolveu com agiotas, mas admite conhecer Gláucio Alencar e o Júnior Bolinha, com o qual contratou serviços.
Para a polícia conseguir avançar nas investigações sobre o suposto envolvimento de Raimundo Cutrim no esquema de agiotagem, é necessária uma autorização do Tribunal de Justiça, que nunca foi concedida.
As investigações apontam, ainda, que dois policiais civis, identificados como Alcides Nunes da Silva e Joel Durans Medeiros, faziam parte da organização criminosa. Eles trabalhavam na Superintendência Estadual de Investigação Criminal (Seic), justamente no departamento que investiga a quadrilha. Após serem descobertos, os policiais foram afastados do serviço e indiciados por participação na morte de Décio Sá. Além de policiais civis, um capitão da Polícia Militar, identificado como Fábio Aurélio Saraiva Filho, conhecido como “Fábio Capita”, foi preso acusado de envolvimento em duas mortes que teriam sido planejadas pelos agiotas. Ele foi acusado de envolvimento na morte de Fábio Brasil, além de ter sido apontado por Jhonatan como fornecedor da arma usada para matar o jornalista Décio Sá. Apesar de a arma estar com a numeração raspada, a polícia conseguiu identificar que a munição usada no crime pertence a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA), que foi destinada às policias Civil e Militar do Estado.
Neste mês, Fábio Capita conseguiu Habeas Corpus no caso do assassinato de Décio, mas vai continuar detido por causa do assassinato de Fábio Brasil no Piauí.
Um delegado da Polícia Federal, identificado como Pedro Meireles, também teria envolvimento no esquema de agiotagem. Segundo as investigações, Pedro Meireles, é quem investigava irregularidades de prefeituras maranhenses. Para a polícia, ele era quem esquematizava operações para pressionar os prefeitos que não pagavam os agiotas.
Para confirmar o envolvimento de Pedro Meireles com a quadrilha, o ex-prefeito de Serrano do Maranhão, Vagno Pereira, conhecido como “Banga”, concedeu entrevista à rádio Mirante AM, em agosto do ano passado, onde afirmou que foi ameaçado pela quadrilha de agiotas porque não quis pagar uma dívida de R$ 200 mil.
Vagno Pereira alegou que foi preso em 2010, em uma operação da Polícia Federal, armada por Pedro Meireles, por conta da dívida com a quadrilha. O delegado também foi citado em outros depoimentos de testemunhas e aparece em conversas de grampos telefônicos que monitorava a quadrilha. (Ouça no áudio).
O delegado foi procurado pela equipe de reportagem da TV Mirante, mas não quis gravar entrevista. Em nota, a Polícia Federal disse que já está apurando as denúncias contra Pedro Meireles, mas que só vai se manifestar quando as investigações estiverem concluídas.
Procurado pela TV Mirante, o advogado de Gláucio, Ronaldo Henrique também não quis gravar entrevista. Já os policiais, Alcides Nunes e Joel Durans, indiciados e afastados da função, não foram encontrados para falar sobre o assunto.
As investigações sobre os crimes de agiotagem no Maranhão, ainda, não foram concluídas. A polícias acredita ainda que haja a participação de deputados e até de juízes no esquema de agiotagem no Maranhão.

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