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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Marcada pela tragédia, população de Santa Maria tenta retomar a rotina

Neste primeiro momento as pessoas estão chocadas. É uma reação natural. Ainda não caiu a ficha", disse o psicólogo Eduardo Reuwsaat Guimarães, um dos seis integrantes do Núcleo de Estresse e Trauma da PUC do Rio Grande do Sul enviados voluntariamente a Santa Maria para dar auxílio às pessoas afetadas pelo incêndio na boate Kiss.
 
Dois dias depois da tragédia que matou 234 pessoas , a cidade de 260 mil habitantes tenta retomar a rotina, mas as sequelas são visíveis. Vários estabelecimentos comerciais continuam fechados, as ruas estreitas e congestionadas do centro estão tranquilas, o semblante da população é triste, muitas casas exibem faixas pretas de luto ou cartazes em homenagem às vítimas, todas as festas e comemorações foram canceladas.

Por volta das 11h, uma moça quase caiu da moto quando passava na frente do hospital de Caridade, onde estão 38 das 75 pessoas em estado grave por causa do incêndio. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas.

"Perdi dois amigos muito queridos. Outro está em estado grave. Quando passei na frente do hospital vi os parentes dos feridos e não consegui segurar o choro. As lágrimas embaçaram tudo e quase caí", disse a mulher que não quis se identificar.

Na entrada do centenário Clube Caixeiral Santa Maria, o mais antigo da cidade, com 125 anos, um cartaz avisa: "Estão suspensos todos os eventos do clube em respeito às vítimas da tragédia da boate Kiss. Retornamos em março".

"A gente parece que está até meio tonto", disse João Carlos Pereira, funcionário do clube, resumindo o sentimento de grande parte da cidade.

O luto não é o único motivo para suspensão das festas. A maioria das casas noturnas e bares agitados de Santa Maria fechou preventivamente por medo de não atenderem às normas de segurança. O clube Caxeiral, por exemplo, não possui saída de emergência.

Segundo a estudante de Tecnologia de Alimentos Bárbara Kuschinski, 20 anos, uma das sobreviventes do incêndio, quase todas as casas noturnas de Santa Maria apresentavam as mesmas falhas de segurança da Kiss. "É tudo a mesma coisa. A única boate que poderia dar um pouco mais de segurança é a Absinto (cujo dono é um dos sócios da Kiss) que tem duas portas de saída', disse Bárbara.

O trauma causado pela tragédia deve fazer com que todas os locais de diversão da cidade melhorem a segurança. "Algumas casas noturnas fecharam em respeito às vítimas mas também devido à necessidade de informações completas sobre alvarás e normas de segurança", afirmou Cleverton Rossa da Rocha, diretor executivo da Câmara de Dirigentes Lojistas de Santa Maria.

Segundo ele, é impossível mensurar o impacto da tragédia na economia local mas o prejuízo é certo. "A cidade vive do comércio e de serviços e os universitários que vem de fora são um segmento importante e que foi muito afetado. É normal que durante algum tempo o impacto da tragédia modifique hábitos dos consumidores', disse ele.

Segundo o psicólogo Eduardo Guimarães, os sintomas de choque devem passar em alguns dias. Mas depois que a "ficha cair" podem surgir os casos mais sérios de traumas ou depressão causados pela tragédia.

'O que estamos fazendo agora é prestar os primeiros socorros. Se em alguns meses as respostas emocionais continuarem muito exacerbadas é recomendável procurar auxílio. Fatos como estes podem causar transtorno de estresse pró-traumático ou depressão", disse ele.

De acordo com Guimarães, parentes das vítimas, sobreviventes do incêndio e funcionários da boate são ao que mais buscaram apoio psicológico até agora. A equipe da PUC-RS está treinando funcionários da prefeitura para que o atendimento seja mantido nos próximos meses.

(O Imparcial Online, com informações do Portal IG)

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