A transferência do matador, contratado por uma rede de agiotas para matar o blogueiro, foi confirmada ontem (23), pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Maranhão e deve acontecer no período da manhã, sob coordenação de agentes federais do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
Segundo o secretário-adjunto de Inteligência e Assuntos Estratégicos da SSP, Laércio Costa, Jhonatan Silva viajará escoltado em um voo comercial.
- A direção do Depen deve nos confirmar ainda hoje [ontem] a chegada de quatro agentes penitenciários federais amanhã [hoje] a São Luís e no sábado [amanhã] retornarão com o assassino do jornalista ao estado do Mato Grosso do Sul, onde ele ficará à disposição da Justiça - disse Laércio Costa, que não quis dar detalhes sobre a transferência.
O presídio Federal de Campo Grande é dotada de infraestrutura especializada e equipamentos de segurança de última geração, como aparelhos de raio-x, coleta de impressão digital e detectores de metal de alta sensibilidade. Além disso, a unidade prisional é monitorada 24 horas por cerca de 200 câmeras de vídeo, parte delas instalada em locais secretos. A exemplo dos demais presídios de segurança máxima do país, tem 208 celas individuais e 12 de isolamento, totalizando 12.700 m² de área construída.
Foi para unidades prisionais como esta que a Polícia Civil do Maranhão solicitou a transferência de presos de alta periculosidade. Em um dos casos mais recentes, destacou-se a remoção dos 23 detentos que participaram diretamente da sangrenta rebelião do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em novembro de 2010, que durou 48 horas e teve um saldo de 18 presos assassinados, quatro deles decapitados. A permanência de um detento em um presídio federal, no entanto, é de um ano, prorrogável por mais um.
Profissão
Jhonatan de Sousa Silva é natural da cidade de Xinguara, no estado do Pará. Ele assume ter executado pelo menos 30 pessoas por encomenda nessa região. O pistoleiro paraense, que se considera abertamente um “matador profissional”, foi preso como traficante de drogas no dia 5 de junho, em uma chácara no bairro Miritiua, município de São José de Ribamar, em companhia de um primo, portando 10 kg de crack; uma escopeta calibre 12 e uma pistola ponto 40, semelhante à que usou para matar Décio Sá.
A prisão de Jhonatan Silva foi feita pela Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic) e ocorreu 43 dias após o assassinato do repórter da editoria de Política de O Estado. Identificado pela Polícia Civil do Maranhão como o matador do jornalista, o paraense contribuiu com o trabalho de investigação e ajudou a polícia maranhense a desbaratar uma rede de agiotagem que havia encomendado a morte do blogueiro pelo fato de ele vir publicando informações que estariam prejudicando o bando.
Em seus depoimentos à polícia maranhense, Jhonatan Silva afirmou que os agiotas lhe ofereceram R$ 100 mil para matar Décio Sá. Na madrugada do dia 13 daquele mês, a Polícia Civil realizou a Operação Detonando e prendeu outras seis pessoas por determinação da Justiça, suspeitas de integrar a rede de agiotagem responsável por financiar o crime. Os primeiros a serem localizados na ação policial foram os empresários Gláucio Alencar Pontes Carvalho, de 34 anos, e seu pai, José de Alencar Miranda Carvalho, de 72 anos.
Consórcio
Para viabilizar a morte de Décio Sá, os líderes da quadrilha acionaram o que a polícia classificou de seus “assessores”. São eles os empresários José Raimundo Sales Chaves Júnior, o Júnior Bolinha, de 38 anos; Fábio Aurélio do Lago e Silva, o Buchecha, de 32 anos, apontados como intermediadores do crime, presos na Operação Detonando, e Shirliano Graciano de Oliveira, conhecido como Balão, de 27 anos, que trabalha no ramo de venda de bebidas, mas que não foi encontrado em seu endereço, na cidade de Santa Inês.
Além deste, continuam foragidos Elker Farias Veloso, o Diego, de 26 anos, identificado como o piloto de fuga do assassino, e um homem identificado apenas como Neguinho, que teria apresentado o matador ao restante do bando. O último a ser preso na ação policial, também por ordem judicial, foi o subcomandante do Batalhão de Choque (BPChoque) da Polícia Militar do Maranhão, Fábio Aurélio Saraiva Silva, de 36 anos, indiciado no crime por suspeita de ter fornecido a arma utilizada pelo assassino de Décio Sá.
O inquérito que investigou o assassinato do jornalista Décio Sá foi concluído e remetido à Justiça no fim da tarde do dia 17 deste mês. Formada por 1.970 páginas, distribuídas em 31 volumes, toda a documentação foi entregue na sala da 1ª Vara do Tribunal do Júri, no Fórum Desembargador Sarney Costa, no Calhau, pela comissão de delegados que trabalhou no caso durante 116 dias. Na ocasião, a delegada-geral de Polícia Civil do Maranhão, Maria Cristina Meneses, afirmou que 13 pessoas foram indiciadas pelo homicídio do blogueiro, mas não revelou os nomes dos quatro últimos indiciados, alegando necessidade de sigilo nas investigações secundárias ao homicídio, que tenta esclarecer os crimes de agiotagem no Estado.